chuva

Indesejável e decadente chuva, dá-me de beber das tuas gotas, envolve-me nos teus lençóis de água, leva-me para um sítio distante, afastado de tudo, onde só eu tenha a chave para entrar, um lugar encantado, onde me molhas com essa tua limpa água, onde bebo dela, onde as únicas tempestades são as tuas, um lugar mágico onde me enfeitiças e me obrigas a dançar entre os teus lagos até ao amanhecer. Leva-me, não suporto mais isto, não aguento mais observar-se sem te poder tocar, sem poder bailar contigo, sem te poder sentir cair sobre mim, sem conseguir sentir-te a lavar cada meu fio de cabelo. Abraça-me e leva-me deste local obscuro, negro, horrendo, por favor, não me deixes apodrecer neste inferno interminável. Banha-me e transforma o meu mundo em água, numa transparente tonalidade de azul, um azul indecifrável, num enigma incompreensível.
Quero ser diferente, quero ser tua, orgulhar-me de o ser, quero poder dizer que me pertences para sempre, que me proteges e que desenhas cada gota em torno do meu sorriso, a meu gosto, apenas para realçar o brilho dos meus pequenos olhos.

Aguardo o dia da nossa fuga, o dia em que eu e tu seremos só um espírito, o dia em que abraçarei tudo num relance de olhos, como que um íntimo romance, eu espero por esse dia, o primeiro dia da minha vida. Tenho esperança que da próxima vez que por aqui apareceres, me tires daqui e eu possa por fim, voar livremente contigo ..
Espero impacientemente .. mas quando, quando surgirás?


victoriaayuso.